O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar nesta segunda-feira (6) o patamar do juro básico da economia e a política monetária definida pelo Banco Central.
Em cerimônia no Rio de Janeiro para marcar a posse do ex-ministro Aloizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula afirmou que o Brasil tem uma "cultura" de juros altos que "não combina com a necessidade de crescimento" do país.
Lula também atacou o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que, na semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 13,75% – patamar em vigor desde agosto de 2022.
"É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira", disse o petista.
"Tem muita gente que fala: 'Pô, mas o presidente não pode falar isso'. Ora, se eu que fui eleito não puder falar, quem que eu vou querer que fale? O catador de material reciclável? Quem que eu vou querer que fale por mim? Não. Eu tenho que falar. Porque quando eu era presidente eu era cobrado", emendou o chefe do Executivo.
Recentemente, em entrevista, Lula chamou de "bobagem" a independência do Banco Central, prevista em lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ideia da lei é que, não podendo a diretoria da instituição ser demitida por eventualmente subir a taxa de juros, a atuação seja técnica, blindada de pressões político-partidárias, focada no combate à inflação.
Queda de juros depende de condições econômicas
A taxa de juros subiu mais de 11 pontos percentuais entre janeiro de 2021 e agosto de 2022. De acordo com o Banco Central, a medida foi necessária para frear a inflação, agravada por eventos como a pandemia da Covid e a invasão da Ucrânia pela Rússia, além de fatores internos.
Com a disparada dos preços, o BC avaliou que era necessário elevar os juros e, assim, reduzir a circulação de dinheiro na economia -- mecanismo que segura a inflação.
Economistas avaliam que a redução dos juros, para não piorar a inflação, deve ser acompanhada de melhorias na economia. O governo precisa dar sinais positivos ao mercado e aos investidores – por exemplo, garantindo responsabilidade fiscal e segurança jurídica.
Isso traria investimentos ao país e manteria as contas públicas sob controle, fatores que contêm a inflação.
O economista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real, afirmou em novembro que outra condição é a taxa de juros nos Estados Unidos, em tendência de alta. Quanto maior a taxa norte-americana, mas os investidores vão preferir enviar capital para o país, a principal economia do mundo.
“A queda de juros projetada pelo mercado parece razoável, mas depende da política fiscal responsável no Brasil e da taxa de juros americana. São as duas preocupações que podem afetar a taxa de juros mais a frente”, afirmou o economista.